No início de 2019 previa-se que aproximadamente 132 milhões de pessoas precisassem de assistência humanitária e de facto, ao longo do ano, assistimos a 70 Milhões de pessoas (número mais alto que na segunda guerra mundial) forçadas a deixar as suas casas, a terem que reformular o seu sentido de vida, a gerir preocupações, mágoas e perdão, a re-inventarem-se com (ou sem) tolerância, a tentar assimilar experiências sem dignidade, como violações, fome, privação de amor ou protecção, e mesmo assim, mais um ano passou e a saúde mental, não foi prioritária nos programas de assistência humanitária.
Era urgente reflectir como quebrar estes ciclos e isso aconteceu esta semana na Cimeira Internacional de Saúde mental e Apoio Psico-social a decorrer nos Países Baixos entre 7 e 10 de Outubro, onde estive presente com a associação “beHuman”.
Um dos objectivos da Ministra Sigrid Kaag com esta cimeira era sem dúvida juntar as histórias do terreno, como a do João, mais um trabalhador humanitário a sofrer de “fadiga por compaixão”, o Hussein, que continua agressivo no campo de deslocados do Líbano ou a Asma que é mais uma criança, filha de violação de um membro do ISIS e, por isso abandonada na tenda das centenas de órfãos do Iraque; À expertise e investigação das Agências Humanitárias como a UN, WHO, IOM ou OECD, aos decisores politicos, do Líbano, Uganda, Suécia e Suiça, Reino Unido, Índia entre muitos outros. Para que, em conjunto, se chegasse a um acordo e compromisso de criar um pacote de Saúde Mental básico a ser integrado nas intervenções humanitárias (e não só) apoiando o atual sofrimento vivido e apoiando as futuras gerações a erem mais saudáveis, menos traumatizadas.
Se olharmos com atenção, a saúde mental é uma das maiores crises de saúde pública, social e económica da actualidade, os mais de 300 milhões de pessoas registadas mundialmente com depressão ou as 800 Mil pessoas a morrerem de suicídio por ano (a segunda causas de morte entre os 15-29 anos a nível mundial) falam por si e impactam no tipo de sociedades em que vivemos. Uma sociedade emocionalmente doente é uma sociedade desumanizada, intolerante, insegura, zangada e muito egoísta. Portugal, por exemplo, é um dos países com maior taxa de depressão e consumo de anti-depressivos da Europa.
Por um mundo mais humano, este ano a Ministra Kaag e sua equipa conseguiram ter o compromisso dos especialistas, da investigação e conhecimento e dos decisores políticos, na criação e implementação do programa básico de saúde mental nos 4 cantos do mundo.
Havendo um pacote básico e essencial de saúde mental e acção Psico-social, passa a haver um orçamento, um plano de actividades e intervenção em vários sectores, para com isto, voltarmos a acreditar que é possível interromper o mundo de loucos em que vivemos e ter sociedades mais saudáveis, com esperança e flexibilidade, tolerância e compaixão, generosidade, com mais amor e sentido de propósito, não só para os sobreviventes, como para as equipas humanitárias e suas famílias, governos, suas sociedades e futuras gerações. Para o ano, será o governo Francês a acolher o mesmo grupo de agentes e fazer o ponto de situação.